Publicado em 04 de novembro de 2024
No oitavo dia da 35ª edição do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, o público poderá conferir três atrações: o Coral Vox Uomini, o Duo Vincens- Maciel e o concerto “Em minha voz existia um sonho”. O Coral Vox Uomini se apresenta na Galeria do Museu Mariano Procópio, às 17h. Em seguida, o Duo Vincens-Maciel, formado pelos violonistas Guilherme Vincens e Michel Maciel, realiza seu recital no Museu de Arte Murilo
Mendes, às 18h. Encerrando a programação do dia, o concerto de flauta e piano “Em minha voz existia um sonho”, de Felipe Amorim e Alice Belém, acontece no Cine-Theatro Central, às 20h.
Do alto das montanhas
O grupo vocal masculino Vox Uomini, fundado em 2006, em Juiz de Fora, tem como objetivo promover e divulgar o canto alpino ou de montanha, tradicional do norte da Itália. Em um contexto amplo, a apresentação do coral proporciona uma imersão na cultura italiana, que exerceu significativa influência no desenvolvimento da música brasileira, tanto no período colonial, com suas raízes na ópera italiana, quanto em sua evolução. Essa influência se torna ainda mais evidente na formação de uma identidade característica, especialmente durante a grande imigração italiana para o Brasil, que foi fundamental na constituição da identidade nacional.
O repertório a ser apresentado pelo coral abrange os principais compositores do gênero, desde sua origem até os tempos atuais, incluindo Antônio Pedrotti, Teo Usuelli, Luigi Pigarelli, Gianni Malatesta, Bepi De Marzi, Arturo Benedetti Michelangeli e Marco Maiero. Destacam-se os clássicos tradicionais “Signore delle cime” e “Montanara”, além de “Bella
Ciao”, uma canção popular italiana composta no final do século XIX, que se tornou um símbolo da Resistência italiana contra o fascismo durante a Segunda Guerra Mundial e é amplamente conhecida em todo o mundo, tendo sido gravada por diversos artistas. Recentemente, “Bella Ciao” foi utilizada como tema musical na série da Netflix “La Casa de Papel” e ganhou uma versão funk de MC MM e DJ RD, intitulada “Só Quer Vrau / Bella Ciao Funk”, que divulgou
ainda mais a canção tradicional em novos contextos.
O regente do grupo, Domício Procópio, é formado em Regência pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Além de dirigir o Vox Uomini, é diretor artístico das promoções da Associação Artística e Cultural Coro Municipal Juiz de Fora, e regente do Coro Municipal Juiz de Fora e do Coral OAB. Domício também atua como professor de técnicas vocais para a voz cantada em teatro, no curso de Produções Cênicas da Faculdade Machado Sobrinho.
“O contato com o canto alpino italiano é uma viagem aos tempos tradicionais de reuniões familiares, especialmente os almoços de domingo, que são uma tradição herdada dos italianos, marcadas por grandes refeições, e onde a família se reúne para compartilhar histórias e manter os laços familiares”, destaca o maestro.
Violões, América Latina e Espanha
A dupla formada pelos renomados violonistas Guilherme Vincens e Michel Maciel se destaca pela interpretação e pesquisa de repertórios que celebram a riqueza da música brasileira, espanhola e latino-americana. Ao longo de sua trajetória, o duo se apresentou em importantes festivais e séries de concertos, como o II Circuito de Violão das Vertentes (São João del-Rei), o Sim! Simpósio Internacional de Violão (Belo Horizonte), o Festival de Violão da
UFRGS (Porto Alegre), o I Festival de Violão José Lucena (Ouro Branco), e os Concertos no Museu do Oratório (Ouro Preto).
Suas performances também marcaram presença no IV Seminário de Violão de Rio Claro (Rio Claro, SP, 2014), no Inverno Cultural da UFSJ (São João del-Rei, 2014 e 2012), e na Mostra de Violão Fred Schneiter (Rio de Janeiro, 2014), consolidando o duo como referência no cenário musical brasileiro e internacional.
Guilherme Vincens é doutor em performance musical e etnomusicologia pela University of Arizona, tendo estudado com renomados violonistas e participado de masterclasses com grandes mestres do violão. Com 11 premiações internacionais, incluindo o 1° lugar no XI Concurso de Violão de Portland (EUA), Vincens já se apresentou em importantes salas de concerto pelo mundo.
Michel Maciel, por sua vez, é doutorando em música pela UFMG e professor da Escola de Música da mesma instituição. Com uma carreira sólida, já lecionou no Conservatório Estadual de Música de São João del-Rei e na Universidade Federal de Ouro Preto. Além de suas apresentações em palcos internacionais, Maciel colaborou com grandes nomes da música popular brasileira, como Milton Nascimento e Toninho Horta.
Entre as peças selecionadas pelo duo, destacam-se “Lo que vendrá” de Astor Piazzolla, que traz o espírito vibrante do tango argentino, e “Three Macedonian Blues” de Goran Ivanovic, que explora ritmos e melodias balcânicas em seus três movimentos: Ethno Dance, Lament, e Kalajdzisco Oro. O duo também apresenta obras brasileiras como “Círculo das Cordas” de Marco Pereira, “Milonga São Gonçalo” de Thiago Colombo e o icônico “Jongo” de Paulo Bellinati, representando a rica tradição da música instrumental brasileira. “Tonadilla” de Joaquín Rodrigo, com seus movimentos variados, e a “Tocatta” de Pierre Petit trazem um toque clássico ao programa.
Contemporaneidade e multimeios
O concerto multimeios “Em minha voz existia um sonho” apresenta uma combinação inovadora de criação e performance, com obras de György Ligeti (1923-2006) para piano e de Felipe Amorim (1966) para flauta contrabaixo, flauta e meios eletrônicos. Unindo sons acústicos, e eletroacústicos, elementos cênicos, vídeo e literatura – com trechos de “A Metamorfose”, de Franz Kafka – o espetáculo convida o público a uma experiência imersiva de transformação. O concerto explora novos timbres e improvisações a partir de uma partitura, transformando em música até os sons sutis de um lápis sobre o papel.
Os intérpretes do concerto, Felipe Amorim e Alice Belém, trazem ao palco uma trajetória de destaque na música contemporânea. Ele, flautista e compositor, é professor da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e doutor em Flauta pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Seu trabalho explora a performance criativa, com foco na improvisação e na integração de meios eletrônicos. Ela, pianista e doutora em Artes pela Escola de Comunicações
e Artes (ECA) da Universidade de São Pulo (USP), é especialista em repertório dos séculos XX e XXI.
O programa do concerto traz um diálogo entre obras icônicas de György Ligeti e composições de Felipe Amorim, proporcionando uma experiência sonora única. Ligeti, um dos grandes mestres da música do século XX, é representado por três estudos para piano solo: “Cordes à vide” (1985), “Arc-en-ciel” (1985) e “En suspens” (1988–1994). Amorim, por sua vez, contribui com duas de suas obras: “Almas” (2005), para flauta contrabaixo e meios eletrônicos,
e “cbHJ21” (2024), composição inédita que reflete seu interesse pela contemporaneidade musical e pela improvisação.
O repertório entrelaça universos acústicos e eletroacústicos, criando um ambiente propício à experimentação e à transformação sonora, em sintonia com a proposta multimeios.
Para Amorim, a escolha visa enriquecer a experiência da música contemporânea, tornando-a mais instigante, especialmente para aqueles que têm pouco contato com essa estética. A obra de György Ligeti é desconstruída e reorganizada, transformando os estudos para piano solo em uma performance para piano e eletrônica, com o músico acionando os sons eletrônicos em tempo real.
Nesse contexto, o som gerado pelo lápis escrevendo no papel se torna a base para a criação de harmonias eletrônicas. O ruído do lápis é captado e filtrado, transformando-se em notas que ressoam como sintetizadores, num processo que se conecta diretamente ao texto de A Metamorfose, de Franz Kafka, escolhido para ser escrito durante a performance. Essa metamorfose sonora reflete a ideia de transformação presente tanto na literatura quanto na música.
Sobre a apresentação no Cine-Theatro Central e a participação no Festival, o músico afirma que “as expectativas são grandes, devido à longa tradição do evento e à inclusão de um concerto de música contemporânea em um Festival de música antiga. Trabalhamos com os multimeios por acreditar ser uma forma que agrega dimensões à música contemporânea, tornando-a um objeto artístico mais instigante para um público pouco afeito a esta estética”.
Serviço
Dia 8 de novembro:
● 17h: Apresentação do Coral Vox Uomini, Galeria do Museu Mariano Procópio (Rua Mariano Procópio, 1100 – Mariano Procópio);
● 18h: Recital do Duo Vincens-Maciel, Museu de Arte Murilo Mendes (Rua Benjamin Constant, 790 – Centro);
● 20h: Concerto “Em minha voz existia um sonho”, Cine-Theatro Central (Praça João Pessoa, S/N – Centro).
Entrada gratuita.
Para mais informações, acesse o Instagram @festivaldemusicajf ou entre em contato pelo telefone 2102-3964.