Ópera espanhola, a zarzuela Vendado es Amor, no es Ciego é apresentada na íntegra pela primeira vez no Brasil

Publicado em 10 de julho de 2018

Ópera José de Nebra

O encerramento da 29ª edição do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga já se configura como um marco na história do tradicional evento. No dia 29 de julho, o público juiz-forano terá a oportunidade de conferir um espetáculo inédito no país: a apresentação da zarzuela Vendado es Amor, no es Ciego, montada pela primeira vez em sua íntegra no Brasil, o que tornará a produção do Festival a versão referência dessa obra.

A zarzuela é um gênero da ópera espanhola do século XVII, que, diferentemente da ópera, se caracteriza por mesclar instrumentos, vozes e declamações. A estreia nacional de Vendado es Amor, no es Ciego no Festival é uma homenagem a seu autor, o compositor espanhol José de Nebra (1702-1768), cuja morte completa 250 anos em 2018. A direção artística é de Rosana Orsini, soprano brasileira que mora em Portugal, e a produção conta com nomes nacionais e internacionais de reconhecimento em suas áreas.

Com cenografia da italiana Giorgia Massetani – formada em Cenografia pela Accademia di Belle Arti di Firenze, na Itália, e especialista em Técnicas Plásticas para Cenografia Teatral e Estória de Espetáculo – Vendado es Amor, no es Ciego está sendo produzida exclusivamente para o Festival realizado por Pró-reitoria de Cultura e Centro Cultural Pró-Música/UFJF. A diretora Rosana Orsini relata que, esteticamente, a produção foi inspirada nos pinturas do italiano Corrado Giaquinto, artista contemporâneo do compositor José de Nebra.

Nerea Berraondo

No elenco internacional estão o contratenor italiano Enrico Vicinanzae, a mezzo-soprano espanhola Nerea Berraondo e cantores brasileiros regidos pelo maestro Marco Brescia. A orquestra será dirigida pelo espanhol Roberto Santamaria e a direção cênica fica por conta de Henrique Passini.

A zarzuela surgiu na Espanha, no século XVII, e seu nome inspira-se no Palácio de La Zarzuela, o pavilhão de caça rodeado de amoreiras silvestres (as zarzas), próximo a Madri, onde foram realizadas as primeiras apresentações do estilo. O aragonês José de Nebra foi um renomado compositor desse gênero de obras musicais dramáticas na corte espanhola de Felipe V, mas poucas de suas obras do estilo sobreviveram. O que foi possível conhecer através do que restou preservado, contudo, permite avaliá-lo como um dos mais importantes compositores dramáticos da península ibérica na primeira metade do século XVIII.

História

Com temática mitológica, em Vendado es Amor, no es Ciego, as deusas Vênus e Diana disputam o domínio do monte Ida. Vênus, personagem de Nerea Berraondo, faz um decreto para sacrificar todas as pessoas que não se renderem ao amor. O jovem Anquises, vivido pelo contratenor italiano Enrico Vicinanzae, despreza a determinação e se rende a Diana, Deusa da castidade e da caça, que será interpretada pela soprano Luane Voigan, de Juiz de Fora.

O ineditismo da montagem no Brasil é uma das principais apostas desta edição do Festival. Será a segunda vez consecutiva que o evento se encerra com uma produção dramática do gênero. No ano passado, o palco do Cine-Theatro Central recebeu a produção de Il Ballo delle Ingrate, ópera de Claudio Monteverdi, compositor italiano homenageado naquela edição pela comemoração dos 450 anos de seu nascimento.

A montagem, também assinada por Rosana Orsini, apresentou ao público local o gênero recitativo, que igualmente difere do que se conhece por ópera no sentido atual, por conjugar cenografia, figurinos, texto, música e dança – no caso, o bailado do título. Agora, com a produção da zarzuela, o Festival apresenta ao público mais uma parte da história da ópera e suas variantes estilísticas.

Rosana Orsini

Concerto de encerramento do 29º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga – Vendado es Amor, no es Ciego – Ópera de José de Nebra (Comemoração de 250 anos da morte do compositor)

Dia 29 de julho, às 20h, no Cine-Theatro Central (Praça João Pessoa, s/n – Calçadão da Rua Halfeld, Juiz de Fora, MG)

Entrada franca (Os convites serão distribuídos no Centro Cultural Pró-Música no dia da apresentação, de 8h30 às 17h30. Máximo de quatro convites por pessoa)

* Todos os concertos noturnos serão precedidos de palestras ministradas pelo Prof. Rodolfo Valverde (UFJF), com início às 19h, nos mesmos locais das apresentações.

José de Nebra (Calatayud, 1702 – Madri 1768) – O ambiente musical de Madri no século XVIII era dos mais esplendorosos e magnificentes de toda a Europa, chegando ao ponto de o Rei Felipe V ter contratado o famoso castrado Farinelli para cantar exclusivamente para a família real. Em meio a muitos músicos estrangeiros que trabalhavam para a corte de Madri, destaca-se José de Nebra, nomeado organista do Convento das Descalzas Reales, a capela musical mais importante na corte depois da Capela Real, com apenas 17 anos. A partir de 1723, começa a compor música dramática para os dois teatros públicos da capital espanhola, o Corral del Principe e o Corral de la Cruz, até ser nomeado organista da capela real espanhola em 1724. A partir de 1723 compôs diversas obras cênicas que lhe trouxeram considerável fama e experiência no gênero. No ambiente dos Reales Sitios, Nebra conviveria estreitamente com músicos como Domenico Scarlatti, Carlo Broschi – detto il Farinelli, e Francesco Corselli. Já no Colegio de los Cantorcicos del Rey, Nebra formaria compositores do prestígio de José Lidón, futuro mestre da capela Real, para além de exercer uma sólida influência sobre um dos mais importantes nomes da música de tecla europeia do século XVIII, o Padre Antonio Soler. A partir de 1751 é nomeado vice-maestro da Capela Real e vice-reitor do Colegio de Niños Cantorcicos del Rey, o que o faz deixar sua atividade como compositor de música teatral. Infelizmente, muitas das obras dramáticas de Nebra, denominadas Zarzuelas, não chegaram aos nossos dias, contudo, a grande qualidade das obras preservadas e o inequívoco caráter do compositor aragonês o distinguem como um dos mais importantes compositores dramáticos da península ibérica na primeira metade do século XVIII. A Zarzuela foi um gênero músico-teatral que se desenvolveu na Espanha a partir do século XVII e que se caracteriza principalmente por conter partes instrumentais, partes vocais e partes declamadas. Os primeiros autores de textos dramáticos nesse estilo foram os ilustres Lope de Vega e Calderón de la Barca, o último muitíssimo representado nos teatros efêmeros luso-brasileiros durante toda a primeira metade do século XVIII. Devido à grande presença de artistas italianos na corte espanhola, as obras do chamado “siglo de oro” passaram a valer-se de recursos da cenografia barroca italiana, conformando um espetáculo teatral de maiores dimensões que maravilhava o público, fascinado por todos os elementos visuais e sonoros que conformavam as óperas e zarzuelas de princípios dos setecentos. Em 2018 comemoramos os 250 anos do falecimento desse grande compositor com a montagem da zarzuela Vendado es amor, no es ciego, composta para o Coliseo de la Cruz de Madri em 1744. Nesta Zarzuela, duas Deusas, Vênus e Diana, disputam a soberania do monte Ida. Vênus decreta que todos aqueles que não se rendam ao amor sejam sacrificados, mas o jovem Anquises, que ainda não se apaixonou, despreza o preceito e se consagra a Diana, Deusa da castidade e da caça.

El Coliseo del Buen Retiro – Madri

 

Ficha Técnica

Vendado es amor, no es ciego

Zarzuela em duas jornadas

Música de José de Nebra

Libreto de José de Cañizares

Direção Artística

Rosana Orsini

Direção Musical

Roberto Santamarina

Direção de Cena

Henrique Passini

Maestro preparador e contínuo

Marco Brescia

Cenários

Giorgia Massetani

Alício de Oliveira Silva

Iluminação

Yuri Simon

Figurinos

Michele Botelho

Maquiagem

Gabriela Schembeck

Personagens:

Venus – Nerea Berraondo

Anquises – Enrico Vicinanza

Eumene – Rosana Orsini

Diana – Luane Voigan

Brújula – Fabíola Protzner

Titiro – Alexandre Pereira

Selenisa – Michelle Flores

Bailarinos – Clara Couto e Osny Fonseca

Orquestra:

Violino I – Roberto Santamarina e Bruna Berbert

Violino II – Raquel Aranha e Eliézer Isidoro

Viola – Álisson Berbert

Violoncelo – Lucas Bracher

Cravo – Marco Brescia

Coro:

Michelle Flores

Ana Sukita

Arlana Dias

Letícia Almeida

Bianca Ferreira

Sara Fraga

Lucas Miranda

Alexandre Pereira

Preparação do Coro:

Daniele Espíndola

Outras informações:

Centro Cultural Pró-Música/UFJF – (32) 3218-0336

http://www.promusicaufjf.com.br/festival/index.html

 

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